sábado, 16 de dezembro de 2017

16 de Dezembro - Dia da Vitória


Nesta data é comemorado o dia da Vitória em Bangladesh - esse pequeno país asiático, pouco conhecido pelos brasileiros, venceu a guerra contra o Paquistão em 1971 após um grande conflito que envolveu também a Índia. Bangladesh tornou-se independente após nove meses de guerra e mais de três milhões de mortos.

Bangladesh era conhecida como Paquistão Oriental e desde sua origem em 1947 possuía conflitos com o Paquistão Ocidental devido às suas diferenças de etnias, religião, língua e economia.

Hoje a República Popular de Bangladesh apesar de ser um dos países mais populosos do mundo, vem mudando sua história de dificuldades, despontando nas duas últimas décadas com forte crescimento econômico e programas para redução da pobreza.

O país vem fortalecendo a participação de mulheres no mercado de trabalho, na política e também na diplomacia.

16th of December - The Victory Day

On this date is celebrated the Victory Day of Bangladesh - this small Asian country, little known to the Brazilians, gained its liberation from Pakistan in 1971 after a great conflict that has also involved its allied India, resulting in nine months of war and more than 3 million people dead.

Previously Bangladesh was known as East Pakistan and since its origin in 1947, had conflicts with West Pakistan due to its differences of ethnicity, religion, language and economy.

Today the People's Republic of Bangladesh, despite being one of the most populous countries in the world, has been changing its history of difficulties, emerging in the last two decades with strong economic growth and programs to reduce poverty. 

The country has also strengthened the participation of women in the labor market, in politics and also in diplomacy.



                                                                                                           Profº Marcelo Grendel Guimarães
                                                                                                           Consul Designado de Bangladesh





Leia Mais ››

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Opinião: GKS 2017 - Impressões sobre a Coreia do Sul depois de um mês de estudos e vivência no país


O aluno do sétimo período de Relações Internacionais do UNICURITIBA, Gabriel Thomas Dotta, participou de um programa estudantil oferecido pelo  governo sul-coreano. Hoje, ele relata a experiência no Blog Internacionalize-se. 

GKS 2017: Impressões sobre a Coreia do Sul depois de um mês de estudos e vivência no país
Gabriel Thomas Dotta[1]

            Em junho do corrente ano, fui acariciado com uma das melhores notícias que já recebi: havia sido aceito no Global Korea Scholarship for Undergraduate Students from Africa and Latin America. O GKS é um programa do governo sul-coreano que tem por objetivo auxiliar na promoção do desenvolvimento dos países-parceiros da Coreia por meio da educação. Para tanto, o governo seleciona estudantes de graduação do mundo em desenvolvimento e os leva à Coreia, onde passam um período estudando questões consideradas afeitas ao desenvolvimento de seus países de origem.
            Em 2017, foram selecionados oitenta estudantes, quarenta da África e quarenta da América Latina. Para nossa região, os campos prioritários foram as ciências materiais e a ciência política e estudos internacionais, sendo dedicadas vinte vagas para cada. Assim, para o eixo em que participei, foram selecionados vinte graduandos de áreas relacionadas à ciência política de todos os países latinoamericanos, tendo em conta o rendimento acadêmico, a elaboração de projeto de pesquisa e o perfil dos estudantes.
            O governo coreano arcou com todos os custos relevantes ao programa: passagens aéreas de ida e volta, alimentação, hospedagem e outros. Na ciência política, dos vinte estudantes selecionados dez foram brasileiros, os outros sendo da Nicarágua, República Dominicana, Honduras, Argentina, Peru, México e Colômbia. A composição de nossa turma foi surpreendente, uma vez que a seleção não tinha cotas nacionais, apenas de avaliação comum. Por isso, foi interessante ver o grande peso da América Central.
            Passamos cinco semanas na Coreia, tendo aula de segunda à sexta das 9:00h às 18:00h. Os conteúdos abordados tratavam de administração pública, cooperação internacional e logística, com foco na experiência coreana. Além das aulas, tivemos que desenvolver pesquisas, que ao final do programa foram apresentadas e avaliadas em uma feira científica. Ao menos uma vez por semana era realizada também alguma visita técnica: a órgãos públicos, organizações internacionais sediadas no país, empresas nacionais de peso, como a Samsung, e também a sítios históricos.
            Residimos e estudamos na Universidade Nacional de Incheon, localizada em Songdo, em Incheon, cidade portuária vizinha da capital Seul. Songdo é um território que até recentemente era mar, tendo sido transformado em terra sobre a qual se edificou uma cena urbana. É chamada de “cidade do futuro”, planejada desde o zero há menos de uma década, repleta de tecnologias. Ali estão sediadas organizações como o escritório regional do Banco Mundial e a UNESCAP, comissão sub-regional com funções iguais às de nossa CEPAL; e também as principais indústrias do país, que ali são sujeitas a um regime tarifário diferenciado, visando promover a ocupação do território.
 Durante a estadia, tive a sorte de estabelecer fortes amizades com coreanos, como os que residiam no dormitório da faculdade. Com isso tive a oportunidade de vivenciar vários aspectos da sociedade e me engajar em temas não abordados dentro da sala de aula. Enquanto internacionalista, as questões que mais me chamaram a atenção foram a Coreia do Norte e os Estados Unidos dentro do imaginário social sul-coreano.
Fui com a ideia de que os sul-coreanos viviam em um estado permanente de insegurança por conta da Coreia do Norte, e que por isso nutriam sentimentos negativos contra o país. Na verdade, a despeito da ressonância mediática no Ocidente, nenhum dos coreanos com quem conversei acreditava na possibilidade de um ataque ou guerra, acreditando se tratarem de ameaças retóricas, sem qualquer influência em seu cotidiano.
Ademais, os sul-coreanos tendem a partir de uma distinção muito clara entre povo e governo norte-coreano, que permite uma visão de irmandade. Um discurso que ouvia com frequência era o de que “a Coreia é uma há cinco mil anos; foi dividida há pouco mais de cinquenta e em razão de disputas políticas entre estrangeiros”. A reunificação das Coreias é considerada uma realidade inevitável para a maioria das pessoas; ao ponto de eu ter ouvido, uma vez, que é até bom que o Norte desenvolva armamentos nucleares, já que assim, quando reunificada, a Coreia nasceria como potência nuclear.
Com relação aos Estados Unidos, fui com o estereótipo de que os sul-coreanos teriam uma visão quase natural em favor do país. A verdade é que é bastante comum uma visão bastante crítica, sobretudo em se tratando das relações com o Norte, em que o papel estadunidense é muitas vezes visto como contrário aos interesses do Sul. Quando estive lá, a discussão da vez era o THAAD, sistema antimíssil em instalação pelos EUA na fronteira. Era frequente a leitura de que o THAAD não visava proteger à Coreia, mas sim ao Ocidente, e de que sua instalação mais promoveria que dissiparia tensões.
Embora a segurança não seja tópico comum, ela reflete em uma das questões sociais do país: o serviço militar, ponto de reclamação constante dos jovens. Na Coreia, todos os homens devem passar pelo serviço militar, sem exceções. O serviço obrigatório dura dois anos e, mesmo após seu término, os homens são constantemente convocados para treinamentos. Naturalmente, essa obrigatoriedade tem efeitos sobre a sociedade coreana como um todo, sobretudo na construção de seus estritos papéis de gênero.
 Algumas outras questões sociais me chamaram a atenção, como o sistema educacional. O adolescente coreano tem a rotina comum de iniciar seus estudos assim que acorda e finalizá-los apenas antes de ir dormir. A educação pré-universitária é pública e de alta qualidade, mas por ser omnipresente é considerada insuficiente para muitas famílias, que sonham que seus filhos ingressem nas melhores instituições do país.
Por isso, os estudantes frequentam os hagwon, escolas privadas especializadas em uma disciplina. A rotina comum é ir à escola pública, depois ir a uma escola de matemática, uma de inglês e uma de coreano; e então ir para casa estudar. O vestibular é unificado, como nosso ENEM, e é um grande evento: no dia, aeronaves não podem circular em espaços aéreos que possam perturbar os estudantes durante a prova. Todo esse sistema é considerado bastante abusivo, existindo forte mobilização em seu contrário.
Além de intensa, a educação pré-universitária é bastante mecânica. Uma história que me surpreendeu foi a de um amigo que contou que, nas provas de literatura, um modelo comum de questão é o em que há um enxerto de um livro com lacunas em que os alunos devem preencher a exata palavra utilizada pelo autor: os estudantes precisavam decorar capítulos inteiros dos livros. Felizmente, a atual geração reconhece a inadequação pedagógica desse sistema, ao qual os jovens comumente atribuem a culpa por seu mau desempenho nas universidades, onde o sistema de avaliação tem carga reflexiva.
A obsessão pela educação no país cria também um desequilíbrio: uma massa de mão-de-obra hiper-qualificada para qual não há trabalho, sendo a emigração a saída mais comum. Os empregos de baixa especialização são ocupados por estrangeiros e, principalmente, idosos: a terceira idade coreana é a faixa mais pobre da população, não tendo acompanhado o boom do país, que ocorre a partir da década de 1980.
Outra questão social notável diz respeito ao álcool, elemento central na cultura coreana, de forma que é rotina comum beber todas as noites, mesmo durante a semana e dentro da faculdade. A mais comum é o soju, destilado de arroz ou batata doce. A “prática de beber” é marcada por uma ritualística que induz a sua autoreprodução: se alguém mais velho, e isso inclui idades muito próximas (a idade tem um papel inestimável nas relações sociais coreanas), lhe oferece uma bebida, é desrespeitoso rejeitar. No trabalho, se espera de um bom empregado, homem ou mulher, que saia beber com seu patrão sempre que convidado. Naturalmente, o alcoolismo é um problema muito comum.
Falando em cultura, não há como deixar de mencionar a cultura “em sentido estrito”. A Coreia possui uma indústria cultural muito robusta e o entretenimento ocupa uma parcela considerável da economia. K-pop, k-drama, k-movie, k-beauty: a cultural comercial consumida pela maior parte da população é a produzida dentro do país. Isso reflete diretamente no padrão estético coreano, bastante particular tanto em relação ao ocidental quanto ao japonês e chinês, sociedades próximas.
Me surpreendeu também o fato de que, diferente do que esperava, não é tão comum encontrar estrangeiros na Coreia. Por isso, existe toda espécie de reação ao se deparar com um estrangeiro, às vezes bastante negativas. Na maior parte das vezes, porém, é apenas curiosidade. Uma vez, no metrô, uma senhora sentou ao meu lado e começou a passar a mão na minha perna, fazendo perguntas muito espantada. Pelo que pude entender com meu coreano meia-boca, estava inquieta com o calor que eu devia estar passando por ter pelos na perna, fato incomum entre os homens coreanos.
Finalmente, preciso comentar a comida. São várias as questões que tornam a gastronomia coreana particular: pratos muito apimentados, frios (uma refeição comum é o nengmyeon, macarrão em água com gelo e melancia ou pasta de pimenta), e, em casos extremos, vivos (como o sannakji, polvo). O maior estranhamento, porém, foi a inexistência de separação em comidas de café-da-manhã, almoço e janta. Um “café-da-manhã” comum no refeitório da faculdade era o combo de uma cumbuca de arroz, uma de sopa, uma de saladas e um prato com alguma proteína apimentada. O almoço de um dia era o “café” do dia seguinte, a janta do dia anterior e assim por diante.
O programa de que participei contribuiu muito para a minha formação pessoal e acadêmica. Cada país tem uma cultura própria que se imprime em um universo e sistema de pensamento absolutamente particulares. Ainda assim, por uma série de fatores, o Ocidente partilha de determinadas premissas que tornam as diversas culturas algo assimiláveis entre si. A vivência em um país como a Coreia, por sua vez, mostra contornos da realidade que raramente encontraríamos nos países com que estamos acostumados.  
Estudar em uma turma de internacionalistas de diferentes fundos latinoamericanos foi igualmente inestimável. Nos tornamos muito próximos quase que naturalmente, em razão de semelhanças que nos tornavam estranhos na sociedade coreana. Ao mesmo tempo em que muitas vezes nossos pensamentos eram similares, evidenciando o histórico comum de nossa região, em outras eram irreconciliáveis. Uma aula que muito me marcou foi sobre democracia, quando discutíamos nossas percepções; tema sobre o qual nossos colegas da América Central têm histórias (e presentes) muito diferentes da nossa.
Academicamente, além de impulsionar a desconstrução de paradigmas tomados como dados pelas ciências ocidentais, o programa me apresentou a uma série de temáticas e abordagens que, acredito, já são visíveis em meus esforços de pesquisa.
Para finalizar, há duas dicas que dou a qualquer aluno que tenha se interessado pela experiência. A primeira é que acompanhe as embaixadas dos países no Facebook. Foi ali que tomei ciência do processo seletivo para o programa. E a Coreia não é caso raro: muitos países possuem programas de bolsas desse tipo. A segunda é que se empenhe nas avaliações da faculdade. Sabemos que o método de avaliação na graduação é um tanto injusto, padrão que não é exclusivo da instituição ou mesmo do país. Infelizmente, porém, o GPA, média de todas as notas da faculdade, é o primeiro, talvez o mais importante, critério de seleção para bolsas desse tipo na maior parte dos países.



[1] Graduando do sétimo período de Relações Internacionais no UNICURITIBA
Leia Mais ››

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: Guerra e Estado-nação nos Estados Unidos da América


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

Guerra e Estado-nação nos Estados Unidos da América

Lucas Andrade Quental
Luiz Guilherme G. Schinzel

Por meio das pesquisas desenvolvidas no âmbito do subgrupo “Guerras Tradicionais” – cujas características majoritárias englobam forças violentas organizadas e promovidas pelas unidades políticas entre si, ou seja, o uso da violência para maximização teleológica de seus objetivos –, pôde-se perceber que é de suma relevância considerar e compreender as forças profundas que movem e sustentam os conflitos entre atores capazes de atacar e se defender, como os Estados. 

Em um primeiro momento é preciso levar em consideração a noção conceitual de Estado-nação, portanto é relevante para a pesquisa a participação dos nacionais nas decisões políticas de seus representantes, principalmente quando se trata de conflitos entre Estados-nações. Portanto, as pesquisas buscam abarcar em sua análise o representante máximo da nação utilizado como objeto de pesquisa, por traduzir as intenções e vontades oficiais dos nacionais. Com tais elementos em mente, buscou-se analisar os discursos oficiais de tais representantes, e como estes influenciam nas reverberações políticas da guerra, tanto no Sistema Internacional, quanto no âmbito doméstico.

Através do estudo de caso sobre a relação entre a estabilidade socioeconômica dos EUA e o índice de aprovação do Presidente, com o nível de belicosidade na retórica dos discursos presidenciais durante o período da Guerra do Iraque, e os momentos próximos ao início e ao fim deste conflito, torna-se visível as intenções das partes. Assim, através dos discursos presidenciais estadunidenses, nota-se que, supostamente, há uma intenção falaciosa de resguardar a segurança mundial. Mas, também, há, hipoteticamente, uma intenção econômica e prestigiosa sob tal véu discursado. 

Pode-se afirmar que há a utilização de armamentos discursivos, que é o objeto da pesquisa, e armamentos materiais. Diversos foram os métodos utilizados durante o conflito. Entretanto, podemos salientar o uso do discurso para assolar a integridade do reconhecimento da soberania do outro Estado – além de garantir à parte detentora de maior grau de sofisticação e poder de discurso, um respaldo do Sistema Internacional e aproxima-o da legalização no Direito Internacional Público no âmbito do Sistema Internacional –, e os métodos de destruição física, que englobam armamentos militares e paramilitares. 

A guerra sempre foi algo presente em toda a história da humanidade. Grandes conflitos ocorreram desde que o ser humano passou a pisar sobre esta terra. Organizaram-se politicamente e líderes guiaram seus povos para os mais diferentes conflitos de nossa história. Mesmo após duas guerras mundiais, a guerra insiste em não se tornar coisa do passado. Recentemente temos sido testemunha dos discursos do presidente Donald Trump que em muitos momentos desafiam as normas internacionais e contrariam o bom senso que se espera de um presidente. Portanto, a figura controversa de Donald Trump é o objeto de estudo ideal para compreendermos se ou até que ponto os nacionais são cúmplices nas guerras ao longo da história. 

Portanto, será necessário analisar não apenas a personalidade de Donald Trump, mas o quanto ele corresponde aos sentimentos e vontade de seus nacionais. O resultado poderá apresentar uma luz a respeito de outros fenômenos políticos ao longo da história e entender melhor o fenômeno da guerra.
Leia Mais ››

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

As contribuições de Norman Angell para o Idealismo Moderno.

Artigo apresentado na disciplina de Teoria das Relações Internacionais 1, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba.




* Bruna Barbieri 

Angell era um pacifista e defendia cooperação entre os Estados para a obtenção da paz e que a ideia de que a guerra traria o poder político é apenas uma ilusão, sendo assim, portanto, tenta dissuadir seus leitores de que a guerra não traria benefícios para os vitoriosos e muito menos para os perdedores, principalmente da perspectiva econômica dos países envolvidos. Ele então propõe que a “paz armada” não é tão ruim e que poderia trazer certos benefícios uma vez que as potências envolvidas evitariam atacar a outra temendo que a sua tecnologia e seu poder de destruição pudessem causar a destruição mútua, mantendo assim um certo equilíbrio entre os países.
O grande temor de invasões por parte de inimigos fez com que se instaurasse nas potências europeias no fim do século XIX e início do século XX uma corrida armamentista, buscando sempre novas tecnologias e mantendo o exército alerta em caso de ataque, impulsionando a modernização de seus equipamentos. Esse episódio acarretou a chamada ”paz armada”, a qual foi questionada pelos principais teóricos da época. Para Angell, entretanto, o constante clima de tenção poderia ser benéfico na medida em que as Nações estariam receosas em atacar seus inimigos, pois nenhum Estado começaria uma guerra sem saber se seu potencial bélico seria mais poderoso do que o de seu adversário, não se reservando apenas ás grandes potências, mas influenciando até mesmo regiões onde houvessem conflitos menores.
A principal teoria defendida por ele era de que a guerra não é economicamente viável, nem para o Estado conquistador nem para o Estado conquistado, pois a concepção de que a conquista de novos territórios aumentaria a riqueza dos Estados conquistadores era um teoria antiquada, e que no sistema financeiro no qual as economias estavam inseridas a posse e o saqueio de outros países tenderia a prejudicar a economia dos países vencidos, tendo em vista a interdependência das economias em decorrência da difusão das comunicações nas transações comerciais.
Para alguns a guerra, é da natureza uma, sendo assim, seria inevitável o conflito de interesse, o que levaria os governantes a se envolverem em disputas, sacrificando alguns em nome do bem de toda a Nação. O estadista deve enfrentar a guerra quando ela tiver um papel importante na realização dos interesses da nação. Fazem ainda uma comparação com os trabalhadores, que se submetem a trabalhos perigos apenas para enriquecer, então não haveria problema em o governante sacrificar seus soldados para garantir o que seria melhor para o desenvolvimento daquele Estado. Para contestar essa lógica dos defensores da guerra como algo que vá beneficiar a economia dos Estados, Angell afirma que devido à interdependência no mercado mundial, a segurança das riquezas de um Estado depende de outros fatores que não o bélico. Somente a extensão do território administrado de uma potência não implica na prosperidade dos habitantes desse território. A extensão do território poderia inclusive prejudicar o status de grandes potências. Ele completa dizendo que no caso de alguns países de extensão territorial pequena e de um exército militar limitado conseguem manter a sua economia estável mesmo depois de uma invasão militar de uma grande potência. Muitas vezes a renda per capita de tais nações é igual ou superior à renda das grandes potências. Porém, isso não garante a estabilidade desses países.
Para os defensores da cooperação entre as nações, a invasão de território implica em prejuízo na economia do vencido, e isso não é interessante para a economia internacional. Uma nação não aumenta sua riqueza ao expandir o seu território, pois ao anexar um Estado o conquistador anexa também seus habitantes, esses sim são os únicos proprietários da riqueza correspondente, e o conquistador nada ganha. Além disso, a hegemonia no comércio internacional está ligada ao preço de seus produtos e a qualidade que ele é ofertado no mercado; nessa perspectiva é possível que um país arruíne outro sem precisar de um conflito.
Para manter uma balança comercial favorável no mercado mundial o país deve importar e exportar de forma equilibrada, se um país conquistar a economia de outro país acabará com o seu mercado consumidor para a exportação. É seguindo essa lógica que a maior parte dos defensores da paz mundial irá argumentar para tentar evitar um conflito mundial, o que já era previsível na virada do século XIX para o século XX.A ciência da política internacional surge nesse contexto com a intensão de elaborar teorias que viabilizassem a relação entre os estados europeus de tal forma que impossibilitasse a guerra. Os pensadores utópicos defendiam a cooperação entre os estados, baseando-se no argumento de que a economia dos países europeus era interdependente e, portanto, nenhuma nação deveria guerrear com outra, pois estaria colocando em risco a sua prosperidade e soberania nacional. Já os pensadores realistas não elaboravam teorias para evitar a guerra, apenas se preocupavam em analisar os fatos.
Ao longo de seu livro “A Grande Ilusão” Angell levanta a sua principal questão: que para garantir o desenvolvimento de sua economia e manter um status de bem-estar social na população não é preciso que os Estados entrem em guerra uns contra outros em busca por novos territórios. A disputa por territórios, o saqueio da economia dos conquistados assim como tomar por escravos os homens que outrora foram livres do país conquistado pertence a um período anterior a consolidação do Estado moderno, um período em que as economias nacionais eram independentes.
Contudo, com o desenvolvimento das comunicações e a interação entre as economias, o desenvolvimento econômico e social dos Estados passa a não depender mais da expansão de suas fronteiras, a supremacia militar de um povo não garante uma economia forte. Mesmo sendo vitoriosa a guerra não necessariamente é lucrativa para o conquistador. A divisão do trabalho, intensificado pela disseminação da comunicação é um dos fenômenos que pode ser observado como causador da interdependência financeira das nações civilizadas.
Em seu terceiro capítulo, Angell comenta sobre os axiomas, verdades universalmente aceitas e inquestionáveis sobre o modo como o poder era atribuído à política, descritos no capítulo anterior por Frederick Harrison. a estabilidade financeira e industrial de cada nação, sua segurança no campo comercial, sua prosperidade e bem-estar dependem da aptidão para defender-se contra os ataques dos outros países, os quais estarão prontos, sempre que possível, a tentar uma agressão, para aumentar seu poder e, portanto, o seu bem-estar e sua prosperidade, às custas do fracos e dos vencidos, como ele mesmo coloca.
Esses axiomas são manifestações vividas e evidentes, constituem um dos erros mais enganosos e perigosos que se possa cometer, erro que tem em alguns dos seus aspectos, o caráter de uma ilusão de ótica, de outros o de uma simples superstição, a qual, além de ser profunda e universal, possui males tão graves como o de deslocar dos seus caminhos normais um imenso caudal de energia humana, desviando-o de tal forma que, se de tal superstição não nos conseguirmos despojar, representará uma verdadeira ameaça a civilização. Angell fundamenta sua opinião mediante sete proposições que abarcam o campo das afirmativas características da política adotada na Inglaterra e na Alemanha. Essas sete proposições podem ser resumidas em uma só: em nossos dias, a única conduta possível para o conquistador é deixar a riqueza de um território em mãos de seus habitantes, que são os únicos e verdadeiros proprietários da riqueza correspondente.

Norman Angell vai contra a ideia de outros autores como Edward Carr, que a partir de estudos empíricos os estados buscam objetivar particulares, ou seja, os estados não buscam o bem da sociedade, ele busca os interesses particulares dos mais abastados, riquezas e os estados são contrários a harmonia de interesses. O autor também discute nesse capitulo o equilíbrio ou balanço de poder. A ação é fundada na política de poder. Que se contrapõe a harmonia de interesses. Afirma que todos os estados consideram o poder e se fundamentam nele. Angell desqualifica o poder querendo que a sociedade internacional não se fundamente no poder, indo contra Carr. Para ele, sem equilíbrio de poder nada funciona.


REFERÊNCIAS:

ANGELL, Norman. A grande ilusão. Brasilia: UNB, 2002.

* Bruna Barbieri: estudante do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba. 


Leia Mais ››

sábado, 28 de outubro de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: Terrorismo e a Guerra contra o Terror


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

Terrorismo e Guerra contra o Terror 

Mariana Benzoni

Ainda não existe um consenso na comunidade internacional acerca do conceito de terrorismo, dificultando inclusive a luta contra esse tipo de guerra irregular se considerarmos que cada Estado utiliza sua própria definição, por vezes mais abrangentes, por outras mais específicas.

Contudo, em termos gerais, o terrorismo é entendido como um ato de violência ou ameaça de uso da violência, com o qual se objetiva gerar o pânico ou o terror em seu público alvo.

O ato terrorista está ligado a uma organização ou grupo perpetrador – que são os agentes – e a um alvo específico que se pretende atingir. Esse alvo específico, é importante dizer, não necessariamente é o alvo do atentado. Já que os atos buscam realizar tal efeito nas sociedades, não necessariamente essas pessoas/coisas foram escolhidas por motivos específicos, e sim pelo efeito que o atentado a elas ou naquele determinado lugar pode gerar.

Esse tipo de guerra é assimétrica, pois os grupos terroristas usam técnicas e métodos irregulares, como atentados a bomba, assassinatos, sequestros, etc, e normalmente lutam contra um Estado e seu aparato militar.

Alessandro Visacro (2009) classifica o terrorismo de acordo com suas motivações. O primeiro é o terrorismo de Estado, que ocorre quando é perpetrado pelo Estado contra grupos revolucionários, com objetivo de se manter no poder por meio da disseminação do medo. Esse tipo de terrorismo foi bastante utilizado por Stalin na Rússia. Dentro dessa classificação, Visacro ainda distingue o terrorismo patrocinado pelo Estado, que se baseia no apoio por meio de abastecimento de armamentos ou outros produtos, inclusive apoio financeiro a organizações em outras regiões.

O terrorismo político-ideológico é feito por grupos revolucionários e direcionados ao Estado; o terrorismo político-religioso, que vincula objetivos políticos com justificativas religiosas; o narcoterrorismo, que são os atos financiados pelo tráfico de drogas com o objetivo de manter a atividade e por fim, o terrorismo autotélico, que são realizadas por seitas sem vínculo religioso ou político.

Existem documentos que mostram que o fenômeno do terrorismo não é recente, com exemplos do século III a.c. Porém, o terrorismo moderno, da forma que é conhecido atualmente, surgiu no fim do século XIX.

David Rapoport (2004) dividiu o fenômeno em quatro fases de acordo com características de suas motivações. A primeira acontece entre 1870 e 1920, que nasce na Rússia e é disseminada para várias regiões do globo, com motivações anarquistas, assassinavam figuras políticas e que pertenciam à elite devido à desigualdade econômica da época. É sublinhado pelo autor que nessa época ainda havia distinção entre pessoas que não poderiam ser alvos de ataques, considerando mulheres e crianças.

A segunda fase se deu entre 1922 a 1960 e as principais lutas eram as guerras coloniais. As colônias utilizaram largamente os atos terroristas nas guerras de independência contra as metrópoles, como a Argélia entre 1954 e 1962, que realizou ataques terroristas no próprio território e na metrópole francesa.

Na mesma época grupos separatistas como o IRA (Exército Republicano Irlandês) e o ETA (Liberdade para a Terra Basca) também utilizavam de métodos de terror.

A terceira fase percorre a década de 1960 e perdura toda a década de 1970 e suas principais lutas eram relacionadas a movimentos de esquerda, exemplos importantes foram as Brigadas Vermelhas na Itália e as FARC (Força Armadas Revolucionárias da Colômbia) na Colômbia. A quarta fase começa em 1979, na qual predomina o terrorismo político-religioso e tem o extremismo religioso como sua principal característica.

A partir da intensificação da globalização nos anos 1990, o mundo passou a estar mais próximo e o terrorismo evoluiu junto com esse cenário. A internet proporcionou a disseminação de ideais cada vez mais rápidos e com maior alcance, além dos atentados ganharem maior repercussão pela agilidade em que são noticiados em todo o mundo, fazendo com que ataques causassem terror em um número muito maior de pessoas.

Além da maior disseminação de ideias e do aumento do impacto do ato terrorista, a maior mobilidade de pessoas – fronteiras mais perenes – aumentou a vulnerabilidade do Estado de cumprir seu papel e proteger seus nacionais e território, que foi o que vimos nos atentados do século XXI. Os ataques podem vir de qualquer lado e esse fato contribui para a assimilação da ideia de que o Estado não tem controle total sobre os acontecimentos dentro do seu território, gerando maior insegurança, principalmente pelo fato de o Estado não ter especificamente um outro ator para contra-atacar, como seria se um outro Estado o bombardeasse, por exemplo. 

Na tentativa de combater o terrorismo, o Estado não busca uma política apenas reativa, ele procura ser ativo e prevenir ataques (embora isso seja de extrema dificuldade). Atualmente a cooperação internacional em relação aos dados das organizações, métodos, nomes, redes, treinamento militar, etc, é muito forte e importante para a prevenção.

Contudo, existem também medidas contraditórias como a retirada das liberdades individuais quando um Estado é atacado, para que o mesmo possa atuar de qualquer maneira para eliminar os responsáveis e mostrar sua capacidade de resposta. Esses métodos são bastante criticados por grupos de direitos humanos, principalmente quando o Estado de Exceção é instalado e perdurado por muito tempo.

Com o cenário de integração atual o Estado precisa desenvolver alternativas para passar uma mensagem segura e buscar meios efetivos de proteger a população de ataques violentos com intuito de disseminar o terror. Mas, é necessário que o Estado evolua as técnicas e formas de enfrentamento de forma rápida e efetiva, já que o terrorismo é um fenômeno mutável e que se adapta a situações muito rapidamente, diferentemente de toda a estrutura do Estado.


Referências

VISACRO, Alessandro. Guerra Irregular: terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história. São Paulo: Contexto, 2009. 

RAPOPORT, David C. The Four Waves of Modern Terrorism. Washington: Georgetown University Press, 2004. 

WHITTAKER, J. David. The Terrorism Reader. 4 ed. Abingdon, Oxforshire: Routledge, 2012.
Leia Mais ››

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Os 72 anos da Organização das Nações Unidas

Artigo apresentado pelo monitor da Disciplina de Instituições Internacionais, do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, ministrado pela Profa Dra Janiffer Zarpelon, pela comemoração dos 72 anos da Organização das Nações Unidas.


* Por: Rômulo Erhardt Moreski

No dia 24 de outubro é celebrado internacionalmente o dia das Nações Unidas. Era nessa mesma data, em 1945, que entrava em vigor a Carta da ONU, também conhecida como Carta de São Francisco. A organização celebra esse ano, o seu 72º aniversário, e desde sua fundação trabalha junto com as agências especializadas e seus Estados membros na busca pela paz e desenvolvimento em todo o mundo.
A criação de organismos internacionais é de longa data. Desde a Grécia antiga teve iniciativas como a Liga de Delos (aliança militar liderada por Atenas). Mas é com a Revolução Industrial que foram criadas instituições internacionais parecidas com as que temos hoje, chamadas de Primeira Geração. No entanto, foi no pós Primeira Guerra Mundial que são criadas as primeiras organizações internacionais de atuação global: a Liga das Nações, com o objetivo de manter a paz e a segurança internacional; e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919. Estas, conhecidas como Organizações de Segunda de Geração, passam a ter autonomia jurídica, criadas por Estados soberanos de forma voluntaria e com estrutura jurídica.
A partir do fracasso da Liga das Nações devido a Segunda Guerra Mundial, foi necessário pensar novamente sobre mecanismos possíveis para a manutenção da paz internacional.
Em 1942, o termo “Nações Unidas” era concebido pela primeira vez, pelo então presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, no primeiro dia desse mesmo ano, quando 26 países assinaram o que posteriormente ficou conhecido pela Carta da ONU, que expressava a vontade das potências alinhadas em cooperar e não firmar tratados e acordos em separado.
 De abril a junho de 1945, foi discutida a criação da Carta das Nações Unidas em São Francisco, sendo assinada em 26 de junho de 1945, por representantes de 51 países. A entrada em vigor da Organização das Nações Unidas foi 24 de outubro de 1945, quando China, França, União Soviética, Reino Unido e Estados Unidos (conselho de segurança permanente – membros fundadores) e demais signatários ratificaram a Carta de São Francisco.
Assim, desde que a ONU passou a vigorar na esfera internacional, a organização se baseia no princípio de igualdade soberana entre seus membros, e objetivando o cumprindo dos compromissos assumidos e expressos na carta.
A ONU é responsável por organizar conferências internacionais, administrar medidas de intervenção em conflitos, preparar relatórios sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente, analisar problemáticas econômicas e sociais e sensibilizar a opinião pública sobre seu trabalho.
Além disso, a ONU trabalha junto com as suas agências especializadas e programas a fim de promover o dialogo e a criação de novos mecanismos internacionais. Exemplos são a UNESCO, que é inserida ao Sistema ONU para promover a Educação, Ciência e Cultura; o PNUD, programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; o ACNUR, a Agência das Nações Unidas para Refugiados; entre outros.
Atualmente (2017) são 193 países-membros, desses, são 51 os países fundadores que assinaram a Carta das Nações Unidas ou que tomaram parte da Conferência de São Francisco, ou ainda que foram aceitos na Organização por meio da decisão da Assembleia Geral mediante recomendação do Conselho de Segurança.
Desde sua fundação, a organização Internacional corroborou com a resolução e o debate sobre diversos problemas do cenário internacional que não poderiam ser resolvidos pelos Estados agindo unilateralmente e também, supervisionou o comportamento dos Estados na esfera internacional, seja por assuntos de intervenção, cooperação, promoção de direitos entre outros.

Portanto, comemorar o Dia da ONU é de grande importância, pois celebra a criação de uma das mais importantes Organizações Internacionais nos dias de hoje. Assim, apesar das críticas quanto a mesma, a ONU tem promovido o sentimento a cooperação e o dialogo entre os Estados membros, a fim de assegurar a ordem e a manutenção da paz no ambiente internacional. Feliz Dia das Nações Unidas!!!!
Leia Mais ››