sexta-feira, 17 de março de 2017

Redes e Poder no Sistema Internacional: 14 anos da invasão estadunidense no Iraque: impressões da “guerra ao terror” que parece sem fim


A seção "Redes e Poder no Sistema Internacional" é produzida pelos integrantes do Grupo de Pesquisa Redes e Poder no Sistema Internacional (RPSI), que desenvolve no ano de 2017 o projeto "Redes da guerra e a guerra em rede" no UNICURITIBA, sob a orientação do professor Gustavo Glodes Blum. A seção busca compreender o debate a respeito do tema, trazendo análises e descrições de casos que permitam compreender melhor a relação na atualidade entre guerra, discurso, controle, violência institucionalizada ou não e poder. As opiniões relatadas no texto pertencem aos seus autores, e não refletem o posicionamento da instituição.

14 anos da invasão estadunidense no Iraque: impressões da “guerra ao terror” que parece sem fim

Henrique Santos de Albuquerque *

Na próxima semana, completam-se 14 anos da invasão estadunidense no Iraque. Liderada pelo então presidente George W. Bush, a manobra militar realizada em 20 de março de 2003 ainda gera discussões acerca de sua legalidade e real finalidade. Mesmo após o fim da ocupação estadunidense no país, as marcas deixadas no povo e no território Iraquiano continuarão vivas por muito tempo.

A invasão do Iraque, juntamente a invasão do Afeganistão, foram mobilizações militares desencadeadas pela chamada “Guerra ao Terror” – estratégia ofensiva do exército estadunidense contra o “terrorismo” daquilo que considerava como grupos radicais islâmicos. Iniciada logo após os ataques às torres gêmeas, em 11/09/2001 e de autoria reivindicada pelo grupo radical Islâmico Al-Qaeda, a medida foi tomada já que o governo de Bush se viu na necessidade de contra-atacar, tendo em vista que, pela primeira vez em décadas, o país era atacado em seu próprio território.

Primeiramente, ainda em 2001, os Estados Unidos iniciaram uma ofensiva no Afeganistão, país de origem da Al-Qaeda e que abrigava o seu fundador e mandante dos atentados, Osama Bin Laden. Apoiados pela organização armada mulçumana “Aliança do Norte” e de países como Reino Unido, França e Canadá, os norte-americanos visavam retirar o governo Talibã do poder, uma vez que apoiava a Al-Qaeda, além de capturar Bin Laden e desmantelar a organização terrorista.

A segunda etapa da Guerra ao terror foi a invasão ao Iraque, iniciada pouco menos de dois anos após os atentados ao World Trade Center. Afirmando que o governo Iraquiano possuía vasto arsenal de armas químicas e que seu governo ditatorial apoiava grupos terroristas pelo Oriente Médio, o governo Bush desejava intervir no que chamava de “grande ameaça à paz mundial”. Antes de invadir o país, os Estados Unidos foram ao Conselho de Segurança da ONU, que sem obter provas concretas das acusações, não autorizou a invasão. Porém, mesmo sem a aprovação da organização, o governo estadunidense, junto ao governo do Reino Unido, deu início a invasão no dia 20 de março de 2003.

Através de um poderio militar muito superior ao iraquiano, a coalisão anglo-americana em poucas semanas já tinha tomado a capital Bagdá, o que facilitou o processo de desmantelamento do governo de Saddam Hussein. O processo foi marcado pelo intenso bombardeio das cidades iraquianas e, consequentemente, a morte de muitos civis. Já muito fragilizado pela ofensiva estadunidense, o ditador Saddam Hussein foi capturado ainda em 2003, sofrendo um processo criminal que levou a sua condenação à pena de morte, em 2006, por diversos crimes contra a humanidade.

Com a queda do governo Iraquiano, a invasão deu lugar a ocupação estadunidense do Iraque. As tropas norte-americanas se mantiveram no país a mando de Bush, garantindo que os grupos insurgentes não ganhassem mais poder e para que um novo governo iraquiano, aprovado pelos EUA, se formasse. Assim, em 2005, ocorreram eleições legislativas no país, no qual a população escolheu um governo transitório que teve a função de criar uma constituição permanente com princípios democráticos que não infringiam as tradições Islâmicas.

Porém, mesmo com a criação da constituição, a instabilidade somente aumentou no Iraque. Durante os anos conseguintes, os insurgentes se organizaram e deram início a uma sério de conflitos contra as tropas estadunidenses presentes no país. Junto a isso, a violência sectária entre grupos xiitas e sunitas iraquianos deram início a uma guerra civil extremamente sangrenta. Seguiram então anos de conflitos, fazendo com que o Iraque se transformasse de vez em uma praça de guerra. De 2003 até a retirada das tropas estadunidenses, estima-se que mais de 100 mil civis Iraquianos perderam a vida.

A ocupação do Iraque foi se encaminhando para um fim em 2008, com a eleição do novo presidente estadunidense Barack Obama, que tinha como promessa de campanha a retirada das tropas do Iraque. Assim, em 2011, após 8 anos da invasão, 150 mil soldados mobilizados – dentre eles 4.487 combatentes mortos - e cerca de 3 trilhões de dólares gastos com todas as despesas da guerra, os Estados Unidos retiraram suas últimas tropas do território iraquiano e deram fim as ocupações.

Contradições acerca da real causa da invasão e a situação do Iraque hoje

Apesar das afirmações estadunidenses sobre a causa da invasão e ocupação, se questiona muito a real razão para a guerra no Iraque. Ao passo que nunca foi comprovada a existência de um arsenal químico por parte do Iraque e de que o governo iraquiano patrocinava e apoiava grupos terroristas, outras possíveis causas foram surgindo. Dentre essas, as mais aceitas são de que a guerra no Iraque poderia ser extremamente vantajosa ao governo Bush tanto economicamente quanto politicamente. O Iraque era o segundo maior produtor de petróleo do mundo - insumo essencial para a economia estadunidense, que importava de forma abundante para suprir as necessidades internas. Além disso, a ofensiva no Iraque demostraria o poder estadunidense em uma escala global, e traria aprovação interna de uma população assustada e com sede de vingança.

Enquanto hoje as atenções se voltam ao novo inimigo estadunidense, o autoproclamado “Estado Islâmico” (ou “ISIS”, na sigla em inglês), a situação Iraquiana, ao contrário do que o governo dos Estados Unidos tenta afirmar, continua extremamente complicada. A instabilidade política do país persiste, já que os insurgentes saíram da clandestinidade e voltaram a atuar fortemente no país. Atentados e bombardeios continuam frequentes, principalmente através de uma violência sectária por parte dos extremistas sunitas. Além disso, o grupo terrorista Estado Islâmico avançou sob o território iraquiano, se aproveitando da devastação deixada pelos estadunidenses.

Ao fim desta análise, percebe-se que a principal vítima de toda esta situação sempre foi o povo iraquiano, que viu tudo a sua volta ser destruído e hoje vive na miséria, com medo dos altos índices de violência, e sem poder confiar no governo corrupto e instável.

 Portanto, ao analisar toda a conjuntura da invasão e ocupação, juntamente à situação Iraquiana nos dias de hoje, torna-se evidente que as intenções estadunidenses nunca foram de “libertar o povo Iraquiano” do terrorismo e trazer “ordem” ao país. O estado caótico e degradante vivido pelo Iraque apenas reforça que a ocupação estadunidense pode ter chegado ao fim, mas a instabilidade e a guerra, não.


* Henrique Santos de Albuquerque é acadêmico do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA, e membro do Grupo de Pesquisa “Redes e Poder no Sistema Internacional”.

Um comentário:

  1. O balanço do terror. Dar uma resposta ao inimigo rapidamente, destroçar suas bases, manter o mesmo em guerra com ele mesmo, diluir​ seu poder de ação e ainda ganhar financeiramente com isto, três trilhões de dólares não são gastos são lucros internos. O mesmo farão com o Isis logo que recuperem o fôlego. China e Rússia fazem o mesmo em menor escala.Gre

    ResponderExcluir